Apesar de escaladores, durante a pandemia nós também ficamos privados de escalar e após alguns meses comendo compulsivamente e engordando o ciclismo (no nosso caso o mtb de estradão) nos salvou do sedentarismo e do tédio. No começo começamos por rolezinhos curtos, e depois fomos buscando refazer roteiros que a anos não passávamos de bike. Não somos ciclistas profissionais, não competimos, não fizemos o caminho da fé. Mas ao (re)iniciar sentimos falta de algumas referências e orientações. Como escaladores e montanhistas, estamos sempre preocupados em “Boas práticas” das atividades que praticamos. Por isso nós resolvemos compartilhar algumas dicas e roteiros que aprendemos na prática com vocês. Pra você que está começando no pedal, no ciclismo, na bike, no mountain bike, no ciclo-empurrismo, achamos que seria importante que ficasse por dentro de algumas regrinhas fundamentais pra sua própria segurança, e também para manter a imagem do ciclismo e dos esportes Outdoor, do montanhismo, bem conservada para que os que já praticam não sejam prejudicados pelos novatos sem noção. (e pra vc que já zerou o Strava, se quiser sugerir alguma coisa, fique a vontade!)
Pra você que está planejando dar as primeiras pedaladas, vamos falar sobre alguns detalhes técnicos importantes que você vai precisar aprender ao longo da sua evolução dentro do ciclismo, ou mais especificamente, do MTB, vulgo Mountain Bike. Poderíamos ficar horas falando sobre marcas, modelos, tipos, modalidades de bicicleta. Mas vamos nos ater às questões mais genéricas relativas ao esporte.
Andar de bike na cidade é tenso. Use roupas coloridas, evite preto e dê preferência para camisetas fosforescentes. Teoricamente vc tem direito a 1,5m de asfalto do lado direito da rua próximo ao meio-fio, faça sua parte, mas fique sempre esperto pq nem sempre os motoristas respeitam e passam a 1,20m dos ciclistas (a menos que ele também seja um ciclista).
Use capacete (por motivos óbvios – é a única parte do corpo que se vc danificar não da pra viver sem – a não ser que vc entre pra política).
Use Óculos: Os seus olhos são estruturas gelatinosas super frágeis e sensíveis. Óculos pra pedalar não precisa necessariamente ser escuro (mas ajuda). O importante é a proteção (pode ser aqueles de R$5 de casas de parafuso, EPI e construção que normalmente são vendidos a R$50 nas bicicletarias – tem do verde, amarelo, escuro, transparente). Eles servem pra proteger de ciscos, insetos, galhos, poeira, e são bem importantes, especialmente em descidas, dias com vento, e você vai querer inclusive usar a noite.
Luva não é frescura, as suas mãos são a primeira coisa que bate no chão quando vc cai e rala, então seja de R$20 ou de R$200, não é modinha, é EPI (equipamento de proteção individual). É claro que as que tem almofadinha com gel são mais gostosas, com tecido transpirável são frescas, mas no final das contas o que vale é a proteção para a palma das mãos.
Luzes de Sinalização: programe-se pra instalar na sua bike luzinha traseira e frontal pra garantir que você seja visto de longe pelos carros. E claro, evite andar na contramão e respeite a sinalização. As roupas de Lycra de bike ficam a seu critério, valem a pena, é um conforto inenarrável, mas não vamos nos estender muito aqui sobre esse tópico.
Água: Leve sempre, e leve muito! as garrafinhas padrão tem 650ml de água, está na moda as térmicas de R$40 do Mercado Livre que vc pode encontrar por até R$150 (agora que gourmetizou tudo) nas lojas especializadas (Não confundir com as de marca boa tipo Camelback ou Zefal que duram – e custam – até o triplo que as genéricas). De qqer maneira, calcule a quantidade de água baseado na média que vc bebe a cada 5 ou 10km. (se vc não sabe, começa com um monte de água pra pouca distância e vai descobrindo). É sempre melhor sobrar do que faltar!
Avise onde você está indo. Aqui é uma das premissas básicas da escalada que usamos no ciclismo também: parece simples, mas em muitas trilhas não pega celular, não passa ninguém, e você pode ter que andar longos trechos a pé ou ter que ficar esperando ajuda caído no chão todo quebrado até que passe alguém te procurando. Se tem alguém te esperando e você não chega, a ajuda pode vir mais rápido! (e você pode não ter que cortar com um canivete cegoo seu braço que ficou preso embaixo de um bloco de pedra em uma caverna após ele começar apodrecer depois de 127h)
Não jogue lixo, recolha o lixo alheio e leve seu lixo e dos outros embora. Algumas cachoeiras da região tem ficado entulhadas com bastante lixo, latinhas, bitucas, plásticos, enfim, uma vergonha nacional. Faça sua parte e não apenas leve o seu embora mas também leve um pouco do que está lá. Porquê? PORQUÊ NINGUÉM IRÁ FAZER ISSO POR VOCÊ. Caso vc vá um dia de carro, pra não sentir peso na consciência de estar indo de carro para um lugar que você poderia muito bem ter ido de bike mas estava com preguiça, já leva um sacão de lixo de 100L (ou 2) e volta com ele cheio. (Ainnn, mas como eu ia saber que tinha lixo lá? Já estou te avisando: SEMPRE TEM pq ninguém vai lá e cata o lixo alheio). Nos anos 90 o CUME (Centro Universitário de Montanhismo e Excursionismo, nossa associação aqui de São Carlos de escalada e montanhismo – como o próprio nome já diz) fazia trotes com os bixos da Ufscar, o “Enduro do Saltão”, em Itirapina… ganhava o time que juntasse mais lixo. #FIKDIK
Respeite todas as pessoas pelas quais você cruzar no seu caminho. Aquele senhorzinho pode ser dono de todas as terras de Araraquara a Ibaté, (exemplo hipotético), ou pelo menos daquela cerca que você pula pra ir na cachoeira. Seja cordial e acene, cumprimente. Be nice! (Quando sua água acabar faltando 30km pra chegar em casa sob o sol de meio dia no canavial, adivinha quem vai ter água pra te salvar?)
Saiba o mínimo de manutenção de bike. Você não precisa saber desmontar rolamentos complexos ou fazer a sangria do seu freio a disco hidráulico no meio do pedal com um palito de dentes e um chiclete, mas pelo menos remendar um pneu furado, trocar uma câmara de ar e talvez arrumar uma corrente quebrada (com as ferramentas apropriadas para a tarefa) podem te poupar looongas caminhadas empurrando a bike. Assim como na escalada, no ciclismo ter autonomia e independência te salva de váaarias roubadas. Não custa nada também entender o mecanismo de regulagem das marchas da sua bicicleta. Na maioria delas é só girar com o dedo um parafusinho que a marcha para de “pular” ou de fazer barulho.
Aprenda a planejar, verifique a previsão do tempo. Assim você pode prever se você vai precisar de 1L de água ou de 5L para o seu rolê. Lembrando novamente que é melhor sobrar do que faltar. Com o tempo vc aprende também onde são os lugares que dá pra pegar água e reabastecer no caminho. Evite horários entre 11 e 14hrs devido ao sol, e lembre que é bom lavar a relação (relação é o nome que se dá ao sistema corrente, coroas do pedal e marchas – cassete ou catraca) a cada 100~150km. Se sua corrente já terminou o último pedal fazendo aquele barulhinho de falta de lubrificação, não se esqueça de lavar bem a sua relação (o Youtube taí pra isso mesmo) antes do próximo pedal. Existem óleos específicos para dias de chuva com muitas poças de lama, e outros para dias muito secos com muito poeirão. E nunca jogue óleo/cera/etc.. sobre uma corrente suja, que só piora a situação. Primeiro vc lava, depois vc seca e por ultimo lubrifica. E só no mínimo umas 2h depois vc pedala.
Se você não sabe nada disso, e mesmo assim quer dar um pedalzinho num sábado a tarde, só vai. É bom começar por passeios próximos à cidade justamente para estar perto em caso de precisar de socorro. Caso esteja inseguro, você pode fazer uma rota circular pelas marginais, onde em muitos trechos tem ciclovia, como em frente ao Sesc e na rua das Torres (São Carlenses Only). Provavelmente depois do primeiro perrengue você comece a se importar com essas coisas de manutenção, mas se vc for esperto, não espere ficar na mão pra aprender o básico, tipo trocar uma câmara de ar sob um sol de 40º meio dia sem sombra nenhuma ou remendar uma corrente no meio da lama, de noite, chovendo, com hipotermia 😉
Bem, essas dicas são básicas, é claro que há dezenas de blogs e sites especializados de ciclistas profissionais falando sobre essas mesmas coisas, no entanto, como iremos sugerir alguns roteiros na nossa região, não podíamos deixar de citar estas dicas para reforçar a boa conduta dos novos ciclistas que estão chegando cheios de energia e vontade de explorar os arredores. (Mas que vale pra qualquer ciclista em qualquer lugar!).
BÔNUS: Sugerimos um trajeto pela cidade com início e fim no Kartódromo pra você fazer em partes ou ele todo, que tal?